quinta-feira, 20 de setembro de 2007
"Não somos Governo nem Polícia"
Ler, Ler, Ler...este foi o conselho dado por Ivan Rodrigues no I Fórum de Telejornalismo da Unilago, no último dia 13.
Jornalista, trabalhou 25 anos na Rede Globo. Foi editor dos principais telejornais da emissora, como Jornal Nacional e Jornal Hoje, foi responsável pela implantação do Jornalismo das afiliadas Globo de quase todo o país. Além da Rede Globo, Ivan passou pela TV Bandeirantes de São Paulo como editor Chefe, TV Cultura de São Paulo como diretor de Programas Jornalísticos, chefe de Redação da Rádio Bandeirantes de São Paulo, Chefe de Reportagem e Editor da Rádio Jovem Pan de São Paulo.
Morou um ano em Nova York onde foi estagiário da ONU (Organização das Nações Unidas) e fez trrabalhos free-lancer para a Folha de São Paulo e Rádio Capital de são Paulo.
A experiência é muita, mas além de um exemplo de profissional, Ivan Rodrigues é exemplo de humildade. Há um ano resolveu voltar para o interior e tocar projetos pessoais. Montou a "Loja de Mídia", uma assessoria de comunicação.
Em entrvista especial para o Blog, Ivan opina sobre o jornalismo atual.
PAULA BANDARRA: Você passou por muitas cidades do Brasil com o projeto de implantação e organização das afiliadas da Rede Globo. Qual a maior dificuldade que você encontrava nas redações
IVAN RODRIGUES: Fui um dos precursores nesse trabalho de Implantação/reformulação/organização do Jornalismo das Afiliadas Globo. Trabalhei, inicialmente, sob o comando dos companheiros Woyle Guimarães e Raul Bastos. Figuras excepcionais, cuja preocupação maior sempre foi profissionalizar as emissoras Globo, e acabar com a interferência comercial ou política dentro das atividades do Jornalismo. Acabei, depois, com a saida dos dois (que montaram uma super agência de assessoria em São Paulo), assumindo esse trabalho. Herdei as diretrizes. A maior dificuldade, no início, foi mostrar que o Jornalismo precisava trabalhar com isenção, independência - única forma de levar credibilidade ao Departamento e à própria emissora. Enfrentei grandes problemas nessa época, porque o conceito era de que o Jornalismo deveria servir mesmo como alavanca, principalmente para o Departamento Comercial. E a Diretoria Executiva - quase sempre nas mãos de políticos ou testas-de-ferro - entendia que o Jornalismo deveria atuar promovendo os donos da emissora ou os seus amigos... Era comum ver a imprensa panfletária, a serviço de causas e carreiras pessoais, e os donos julgavam-se no direito de conduzir o noticiário. Era uma fase muito difícil. A Globo ameaçava desafiliar e eu usava esse argumento (verdadeiro) para convencer os empresários dos meus objetivos. Era muito complicado, repito. Mas, graças à postura da Globo - especilamente do velho Evandro Carlos de Andrade, Diretor de Jornalismo da Rede, falecido há uns 5 anos, o trabalho teve sequência, e hoje, com certeza, não há mais emissora no país que esteja disposta a não aceitar as regras do Jornalismo. Aliás, faz parte do contrato Globo-Afiliada essa cláusula que estabelece subordinação total à Globo nas coisas sobre o conceito do que é notícia. As regras são duras, e a emissora fica sujeita ao desligamento da Rede, se desobedecer. Não se esqueçam: sem liberdade para noticiar, o Jornalismo será substituido (ou continuará sendo) pela informação manipulada.
PAULA BANDARRA: O que você mais sente falta do jornalismo regional atual?
IVAN RODRIGUES: Importante deixar claro que não falo aqui sobre o jornalismo das emissoras Globo. Minha avaliação é ampla, sobre qualquer emissora, de qualquer Rede. Primeiro, gostaria muito que as outras emissoras tivessem a mesma preocupação da Globo, ou seja, criar núcleos que pudessem supervisionar e direcionar o jornalismo profissionalmente, sem as influências citadas no primeiro ítem. Normalmente, essas emissoras ainda sofrem das interferências maléficas dos questionamentos da área Comercial, ou da Direção Executiva. O Jornalismo dessas emissoras ainda vive sob essa pressão. Outra questão é sobre o próprio comportamento dos colegas jornalistas. Muitos não entenderam ainda que nosso papel é apenas provocar o sentido da reflexão entre as pessoas. Com a denúncia responsável, o Jornalismo estaria estabelecendo sua principal missão e cumprindo seu destino de ajudar no aprimoramento da sociedade. Lembrando sempre que devemos apenas propor o debate. Não somos governo nem polícia. Gostaria de ver, também, uma pauta mais investigativa; mais: não podemos ficar distantes das matérias de consumo; das histórias de interesse humano; dos casos curiosos, sim, sem sensacionalismo; das reportagens sobre Arte em geral. O desafio é a visão de mundo, valorizando as aspirações da população regional. Pauta precisa ser ágil, criativa. Pauta ruím significa jornal ruím...
PAULA BANDARRA: Na sua opinião, o que um jornalista deve fazer para não cair na rotina com os textos?
IVAN RODRIGUES: Rotina... Nada pior !! A acomodação é o pior dos comportamentos. Como entrar na rotina, se vivemos a época das novas tecnologias, da realidade virtual, dos digitais? Temos muito que aprender, muito que ler, aperfeiçoar. Precisamos ser fascinados pelo que fazemos, procurar sempre o melhor. Devemos caminhar sempre com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Vemos gente como vocês, estudantes, cada vez mais preocupados em saber sobre o jornalismo, sobre a televisão, esse veículo capaz de provocar tanto interesse nas pessoas, em todo o mundo, e isso é bom, mas aumenta a responsabilidade de quem lida com a área. Não pode haver rotina, Jornalismo é excitação, é busca permanente. O modelo deve ser sempre inquietante. Nossos códigos e narrativas são nosso patrimônio, nossa herança cultural. Nossa riqueza, nossos valores, são o mercado de idéias. Exercite-o, sempre.
PAULA BANDARRA: Qual a maior diferença do dia a dia do telejornalismo do interior e da capital?
IVAN RODRIGUES: Notícia é notícia, na Capital ou no Interior. No grande centro ou na pequena vila, haverá sempre um fato chamado de o mais importante do dia. Nosso fóco será informar, analisar, criticar, denunciar consequências... O que diferencia é o grau de repercussão. Um fato no Congresso Nacional mexe com a vida do País; um ato do Presidente da República altera o comportamento do cidadão brasileiro; o incêndio num edifício de 30 andares vira notícia internacional; o acidente com um avião é manchete em todo o mundo... Devemos estar prontos para discernir o que é fato local, nacional ou internacional. E a Redação na Capital vive desse fato nacional, da grande audiência... Não diria que isso representa maior ou menor responsabilidade, em relação ao Interior, mas, é lógico, o cuidado deve ser intenso na Capital. A tensão é permanente, qualquer desvio pode ser tornar um erro irreparável. Creio ser esta a maior diferença: é indiscutível na Capital que o grau de tensão, a cobrança permanente, o conhecimento amplo estarão sempre pautando o nosso dia-a-dia, sem hora pra comer, pra dormir, pra se divertir.
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Um comentário:
muito boa a sua iniciativa de entrevistar esse "monstro" do jornalismo regional da Globo, por sinal meu padrinho de profissao e uma pessoa muito competente. Parabens, apenas achei que voce poderia ter dado mais espaco pro Ivan, ele tem muito que falar!
tudo de bom, Josi Mara
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